Precisamos falar sobre Tralha

Precisamos falar sobre Tralha

Tempo de leitura: 14 minutos

 

Você sabe qual é um dos maiores pontos em comum entre Organização e Minimalismo? Ambos partem do princípio que, se você quer conquistar uma melhor qualidade de vida, é preciso começar eliminando da sua vida a tralha.

Mas o que exatamente é considerado tralha e qual é toda a problemática em torno dela que faz organizadores e minimalistas atacarem ela com tanto fervor?

Continue lendo esse artigo para esclarecermos o mínimo necessário sobre esse tema e, possivelmente, levantar alguns alertas sobre tralhas que estejam presentes em sua vida. Não podemos evitar mais o assunto, hoje nós precisamos falar sobre tralha.

 

O que é tralha?

Antes de mais nada, precisamos entender o que é tralha. Basicamente, tralha é tudo aquilo que ocupa lugar em sua casa ou em sua vida sem lhe agregar nenhum valor nem ter serventia alguma.

Tralha é aquilo que fica encostado em um canto de sua casa pegando poeira e nunca é usado nem apreciado. Está lá apenas ocupando espaço e, consequentemente, impedindo você de utilizar aquele espaço para guardar algo realmente significante.

Tralha é aquela porção de objetos que se acumula na gaveta da bagunça e que você já nem faz ideia de como foram parar lá, também não sabendo para onde devem ir.

Tralha são os pertences na sua casa que não possuem um lugar definido para serem guardados e ficam vagando de um cômodo a outro sem que ninguém se decida qual destino eles devem tomar.

Também são tralha os itens que ocupam o lugar de objetos que possuem valor ou utilidade, ficando estes sem um lugar definido para serem devidamente guardados e preservados.

Também podem ser tralha atividades, emoções e relacionamentos que apenas tomam o seu tempo e drenam sua energia, sem realmente oferecer nenhum valor em troca.

Tralha é tudo aquilo que toma de você tempo, espaço, energia, disposição, bem estar e alegria, ao passo que só devolve estresse, frustração, tristeza e desgosto.

A partir dessa definição um tanto abstrata e abrangente, fica fácil categorizar muitas coisas em nossas vidas como tralha. E isso deve mesmo ser feito, afinal, existem muito mais tralhas do que apenas aquelas roupas que você não usa mais e que você continua mantendo numa gaveta abarrotada de seu armário.

 

Quais os problemas gerados por possuir tralha?

Uma coisa deve ficar muito clara: toda tralha está desperdiçando espaço e tempo, e, ao mantê-la, é exatamente isso que você estará perdendo.

Além de roubarem seu precioso espaço, as tralhas costumam dificultar toda a circulação e utilização de seus pertences significativos.

destralhando guarda-roupa

Pense em um guarda-roupas cheio de peças que não lhe servem mais ou que você não usa simplesmente porque não gosta mais delas. O quão difícil se torna achar suas roupas favoritas em meio a tantos outros itens que estão ali amontoados?

Pode considerar também aquela gaveta da cozinha cheia de itens sem utilidade que só atrapalham na hora de procurar o utensílio que você precisa de fato.

Portanto, além de não serem úteis, as tralhas ainda atrapalham a usabilidade dos seus outros pertences. Percebe a problemática que elas criam?

O Minimalismo se coloca a favor do destralhe, evocando seu lema de que menos é mais, justamente para que tantas coisas inúteis não estejam atrapalhando você de enxergar aquilo que é essencial e merecedor de seu tempo e de sua atenção.

A Organização, por sua vez, não pode começar antes de um bom destralhe, conforme discutimos no artigo sobre os princípios fundamentais da organização. Como organizar e alcançar a praticidade e a funcionalidade se estivermos ocupados lidando com coisas sem função alguma em nossas vidas?

tralha física e mental

Além da tralha física, que sempre se coloca atravancando nossos caminhos, também está a nos atrapalhar a tralha mental. Talvez até mais perigosa, esta é a responsável por nos distrair de nossos sonhos e objetivos, nos impedindo muitas vezes de colocar nossos projetos em prática. Existem muitos pensamentos e sentimentos que podemos estar nutrindo, mas que, na verdade, só servirão para nos atrapalhar. Este tópico é digno de um artigo próprio.

Por essas e outras que a tralha pode ser algo tão prejudicial em nossas vidas, sendo tão importante estarmos conscientes dela e buscar meios de nos livrarmos dela.

 

 

Por que acumulamos tralha?

Se a tralha nos faz tão mal, por que a acumulamos? Bom, existem várias respostas para esta pergunta:

 

Instinto acumulador

Por natureza, o ser humano tem medo da escassez. Em épocas de fartura, o instinto natural é acumular bens e guardá-los para a chegada do inverno e do período infrutífero. Nos dias de hoje, isso se reflete no hábito de adquirir e manter coisas supérfluas simplesmente por pensar que algum dia poderá ser útil.

 

Apego emocional

Este é o causador das tralhas mais difíceis de se livrar. Muitas vezes, atribuímos valor sentimental a objetos e, a partir daí, não admitimos nem a ideia de descartar tal objeto, mesmo que isso signifique que ele ficará ocupando espaço no depósito dentro de uma casa, sem que nunca realmente precisemos acessá-lo. O importante é apenas não perdê-lo, pois, isso significaria perder aquele vínculo sentimental.

 

Presentes inúteis

Não é raro que aconteça de você acabar recebendo um presente que não apresente serventia alguma para você. Porém, costumamos apresentar um impulso social de manter aquele presente, mesmo sem termos gostado dele, apenas para não trazer desgosto à pessoa que presenteou. Imagine se um dia ela descobre que você se fez daquele presente! Adicione, então, mais um item que não lhe agrega em nada à sua tralha pessoal.

 

“Posso precisar um dia”

Ok, essa deve ser a desculpa mais comum de se ouvir quando perguntamos “mas, já que você não usa, por que não se livra disso?”

Novamente retornamos ao medo da escassez. O pavor de chegar a um dia e se arrepender de ter jogado algo fora nos faz manter muito mais coisas do que um dia podemos vir a precisar. É por guardar roupas demais porque “pode acabar usando elas um dia” que chegamos à situação de abrir um armário cheio e dizer “poxa, não tenho nada o que vestir hoje”.

 

Desorganização

Quanto mais tralha você possui, mais fácil é de se desorganizar. Quanto mais desorganizado está seu ambiente, mais fácil é de se acumular mais tralha. Temos aqui uma verdadeira bola de neve!

É difícil ter uma boa visibilidade de seus pertences quando existe uma bagunça instaurada. Assim, é difícil sabermos com exatidão todos os pertences que possuímos, inclusive saber se existe ali no meio alguma tralha! Portanto, um ambiente sem organização acaba se tornando muito mais propício para o surgimento daquela tralha que você nem sabia que estava ali.

 

Consumismo

Não é surpresa alguma encontrar tralha na casa de alguém com hábitos compulsivos de compra, que adquire itens mesmo sem ter a necessidade. As compras já chegam em casa sendo tralhas, tralhas muito caras que, além de tomar tempo e espaço, estão sugando o dinheiro do comprador.

 

Vontade de agradar aos outros

Surpreso por este item na nossa lista? Pois acredite, isso é algo que gera tanto tralha física quanto mental. Você pode aceitar algo que alguém lhe dê apenas para ser simpático e agradar. Ou ainda, você pode se envolver em projetos demais apenas para se manter conectado aos seus amigos e familiares, projetos que não estão lhe acrescentando muito, apenas roubando seu tempo. E o que me diz de persistir em um relacionamento que não está sendo nada saudável para você, mas que você não interrompe por receio de magoar a outra parte?

Aqui fica a reflexão: quantas decisões você tem tomado mais pelos outros do que por você mesmo e estão apenas lhe desgastando?

 

 

Como se desfazer da tralha? Como desapegar?

 

Uma vez que sabemos quais são possíveis causas que nos levam a acumular tralhas, cabe encontrarmos soluções para escapar dessas armadilhas do dia a dia.

lidando com a tralha

 

Como identificar a tralha

Antes de eliminar qualquer coisa, é fundamental que saibamos identificar as nossas tralhas. Algumas são muito visíveis e fáceis de se encontrar, mas outras podem estar bem ocultas, ou pior, sendo escondidas de nós por nós mesmos.

Para começar, precisamos estar com a mente bem aberta e estarmos dispostos a olhar para nossos pertences e nos perguntarmos “qual o valor que isso agrega à minha vida?”, buscando obter a resposta mais sincera possível. Precisamos entender por que cada objeto que temos está lá, se ele realmente merece estar lá ou se está apenas desperdiçando espaço. Algumas perguntas podem ser úteis nesse processo de triagem:

  • Qual valor esse item tem em minha vida?
  • Ele vale o espaço que ocupa ou eu poderia estar utilizando melhor esse espaço?
  • Quanto eu estaria disposto a pagar para ter isso?
  • Quantas vezes eu o utilizei no último ano?
  • Eu realmente gosto de ter esse objeto em minha casa?

Essas perguntas estão formuladas para tralhas físicas, mas podemos adaptá-las facilmente para identificar também outras formas tralhas:

  • Eu realmente gosto dessa atividade que sempre faço?
  • O quanto esse relacionamento me faz feliz?
  • Aonde esses tipos de pensamento me levaram até hoje?
  • Esse hábito vale o tempo que ocupa ou eu poderia estar utilizando melhor esse tempo?

O processo de identificar e assumir a própria tralha pode ser bem longo e complicado. Certamente é um exercício de autoconhecimento e, assim, acabará valendo a pena até mesmo além dos benefícios e de tudo o que se recupera ao se livrar da tralha.

Confira 15 perguntas para se fazer na hora de destralhar.

Também vou deixar nesse link uma lista de itens para destralhe na qual você pode se inspirar em sua busca por tralhas na sua casa.

 

Como praticar o desapego

Depois de identificar sua tralha, vem um passo que pode ser ainda mais desafiador: se dispor a abrir mão dela.

Se sua tralha for aquela que você já não é apegado e só ainda não descartou por falta de organização ou porque nem sabia que ela estava ali, então o desapego é tranquilo.

Mas se você já possui certo apego emocional com os objetos ou então tem medo de se livrar deles e um dia precisar deles, o trabalho deve ser mais cuidadoso. Seguem algumas reflexões que podem lhe ajudar com isso:

  • O valor sentimental está no item ou na memória à qual eu o relaciono?
  • O que realmente tem significado para mim, um objeto ou pessoas, experiências e lembranças? O que realmente deve ser guardado?
  • Descartar aquela pilha de cadernos vai fazer com que eu esqueça quem sou? O que realmente me define? É uma pilha de papéis que eu nunca acesso?
  • Vale a pena manter esse objeto ou eu posso adquirir um novo caso eu venha a precisar no futuro?
  • O quão fácil seria suprir a necessidade disso caso um dia eu precise?

Tudo bem, esse processo pode ser até mesmo doloroso dependendo do apego que você possuir pelos seus pertences. Você pode tomar estratégias para tornar tudo mais suave, como por exemplo, fotografar itens dos quais você queira se lembrar depois, guardar apenas uma peça ao invés da coleção inteira delas, entre outras estratégias.

O que também ajuda é manter sempre em mente os benefícios que você estará conquistando ao praticar o destralhe: conseguirá ter mais tempo, espaço, disposição e poderá aproveitar melhor aquilo que ficar, sem ser atrapalhado por coisas não essenciais. Lembre-se de que menos é mais e continue o processo sem culpa.

Ao destralhar, é importante também levar as coisas num ritmo saudável. Não queira fazer tudo em um único dia, pois a tralha também não se acumulou de uma vez. Faça o processo em etapas, no seu tempo e conforme você conseguir lidar com o desapego. Não se preocupe também se precisar de um tempo para se despedir de certos objetos, é natural e totalmente sem culpa que seja assim.

 

Como se livrar da tralha

Agora que você separou a tralha que vai sair de sua casa, está na hora de avaliar qual é o melhor destino para cada peça.

Descartar

Alguns pertences podem não mais ser utilizados. Roupas rasgadas, alimentos vencidos, aparelhos eletrônicos pifados. Cada categoria pode requisitar um tipo de descarte específico, mas em todo caso, acabarão precisando ir para o lixo.

Sempre que possível, é bom buscar por alternativas de descarte que envolvam reciclagem ou reaproveitamento de partes. Vamos procurar ser o mais sustentável possível.

Vender

O oposto também pode acontecer: itens que estão em ótimo estado, até mesmo sem uso, e que ainda podem ser negociados em vendas. Anuncie na internet, leve roupas boas para brechós, recupere o dinheiro que estava parado no meio de sua tralha!

Doar

Num meio termo, encontramos ainda a opção de doação. Se os produtos ainda estão em boas condições ou precisam apenas de leves reparos, é bom considerar a doação. Eles podem acabar indo para pessoas que poderão desfrutar muito bem deles. A sua tralha pode ser o tesouro de alguém! Então conheça bem os lugares que aceitam doações.

 

 

Como evitar o surgimento de mais tralha?

Digamos que você tenha conseguido se livrar de toda a tralha de sua casa. Então, problema resolvido, certo? Não totalmente!

O problema da tralha é que ela sempre tende a reaparecer. Há sempre coisas chegando em nossas casas e, portanto, sempre coisas precisando sair (afinal, nosso espaço continua sendo limitado). Portanto, se você não se atentar para o ressurgimento da tralha em sua casa e em sua vida, ela pode voltar a tomar conta de tudo!

Necessidade de criar hábitos

Lembra-se de que ser organizado é um hábito? Pois bem, destralhar também deve ser um! É impossível evitar o surgimento de tralha, mas é possível criar hábitos e rotinas que nos proporcionem um bom gerenciamento de nossos pertences. Portanto, criando o hábito de desralhar, podemos manter tudo sob controle.

Uma vez que se destralha um ambiente, fica muito mais fácil gerenciá-lo, pois o trabalho grande já foi feito, agora só precisamos de pequenas tarefas para manter o resultado de um lugar destralhado.

Pequenas ações diárias, como andar pela casa com uma sacolinha ou uma caixa na mão para recolher tudo o que precisa ser descartado, são muito poderosas a longo prazo, pois evitam aquele lento acúmulo de tralha no dia a dia que, ao final de um ano, vai estar causando todos os problemas que já conversamos aqui.

Outros hábitos que podemos nutrir:

  • Separar peças para fazer doações de tempos em tempos;
  • Sempre analisar a necessidade antes de realizar novas compras;
  • Adotar políticas como “entra uma peça, sai outra”.

Assim, podemos passo a passo desenvolver mais disciplina com os nossos pertences e descobrir as vantagens de uma vida com menos tralha e mais espaço para o que realmente importa.


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